Crescer

Uma das primeiras vezes que percebi que já estava crescida, quando percebi mesmo, foi quando o meu irmão uma vez reclamou porque “Os pais são uns chatos, estão sempre a dar-me na cabeça,  Estuda! faz os trabalhos de casa! arruma o quarto!” e eu dei por mim a dizer “Um dia vais agradecer eles serem assim e perceber que é para o teu bem”. Nesta altura estava eu a estudar nos Açores.

É engraçado pensar que quando era mais nova também achava os pais uns chatos e os professores também, que exigentes, que chatice  nunca mais sou adulta para decidir o que fazer, se quero estudar, estudo se não quero, trabalho. E depois aconteceu algo giro, decidi continuar a estudar e pior, tinha de ser eu a obrigar-me a estudar porque se não o fizesse ninguém o faria por mim e chumbava, logo…

Hoje acho que gostava de educar os meus filhos de uma forma semelhante à forma como eu fui educada, tenho bons valores e neste momento trabalho na minha área, antes disso trabalhei noutras áreas e fui reconhecida como boa profissional e devo isso tudo aos meus pais. Mais, hoje co-supervisiono aulas e estágios e sinto-me um pouco mãe deles, “dou-lhes na cabeça" e eles ás vezes não percebem que é para o bem deles e que eu quero que eles sejam bem sucedidos… Não faço sugestões ou ensino técnicas só porque me apetece ou para ser chata!

Às vezes tenho saudades de algumas coisas de quando se é mais novo e se vive com os pais, apesar de saber ser extremamente difícil voltar a viver com os meus pais, por feitios que chocam, tenho saudades dos miminhos do pequeno-almoço ao fim-de-semana, principalmente quando o meu pai nos trazia croissants com doce de ovo e fazia sumo de laranja, saudades até de a minha mãe perguntar depois de uma refeição “O que é que se diz à mãe?” e a resposta ser “Faz mais vezes…” :)
Nenhuma família é perfeita, a minha não  é excepção mas gosto muito deles!!!



1 comentário:

  1. Ainda bem que tiveste pais chatos!! Chatérrimos por vezes! Mas “chatices” que te fizeram crescer em alicerces que procurámos fossem sólidos.
    E sabes Vera? Dei por mim a pensar que também eu sinto saudades de me levantar cedinho ao sábado e ir ás Portas de Benfica comprar os croissants. Chegar a casa fazer o sumo de laranja e leva-los á cama ás minhas princesas adormecidas. E se era cedo. Mas como nunca reclamaram, fui abusando ………
    E certamente que a mãe fazia repastos de propósito só pra nós termos o prazer de degustar… Mas vê lá não venhas com muitas exigências culinárias este Natal que a mãe anda “aflita” com uma coisita esquisitíssima chamada dieta. 
    Mas olhando para trás digo-te que valeu a pena. Valeu a pena este trajeto de vida com uma mulher fantástica e três filhos espetaculares que muito nos orgulham. Tivemos sorte? Pois tivemos, sem falsas modéstias também acho que fizemos um pouco por merecê-la. . Fizemos sempre aquilo que achámos melhor e mais indicado em cada caso. Tentámos transmitir os valores que nos norteiam, mas acima de tudo sempre houve respeito mutuo, acompanhamento e apoio. Tu sabes, todos vocês sabem, que num cantinho recatado há sempre um porto seguro para atracar.
    A nossa família não é perfeita (como muito bem dizes), mas gostamos uns dos outros! Muito!! Temos as nossas “chatices”, as nossas desavenças, divergências, apanágio de gerações diferentes, “viveres” diferentes, “sentires” diferentes, mas sempre superados em nome de algo mais forte: o amor que nos une! E esse não se incute, sente-se! Sente-se em palavras e em gestos e nós temos tido ao longo destes anos provas desse amor. Por isso te digo que nos gostamos MUITO.
    Para nós é muito reconfortante podermos dizer que temos 3 filhos de que muito nos orgulhamos e também esse orgulho alicerça a nossa relação marido/mulher. Então também nos cabe agradecer-vos pelos momentos únicos por que passámos e passamos juntos e que começou nos dias em que cada um de vós nasceu.
    Acho muito bem que queiras ser chata quando tiveres filhos. Mesmo que te custe sê chata. Talvez tenhas a sorte de um dia leres um texto similar ao que eu li.

    Ass: o homem do croissant.

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